Imagine uma região vinícola vizinha ao Brasil, a apenas duas horas e meia de viagem de avião a partir de São Paulo. Um lugar onde a produção é pequena e de muita qualidade, com programação de enoturismo crescente e a preços convidativos. Claro, você já sabe que estou falando sobre o Uruguai e suas regiões de cultivo de vinhas, cada vez mais no foco dos holofotes do mundo do vinho, que vem atraindo brasileiros pelos motivos listados acima, entre vários outros.
Obviamente, esse movimento turístico teve uma pausa durante o período da pandemia. E agora, com o Uruguai prestes a abrir fronteiras para viajantes brasileiros vacinados, as atenções voltam ao enoturismo no país.
A pandemia, aliás, impulsionou a produção vinícola uruguaia – assim como aconteceu no Brasil –, que teve um crescimento significativo desde 2020.
A indústria do setor produziu 70 milhões de litros no país somente no ano passado. E os uruguaios aumentaram o consumo de vinhos em 13% em
relação a 2019
Sendo assim, tanto nas regiões produtoras quanto na capital, Montevidéu, a programação voltada ao tema vinhos está sendo retomada. O melhor: sem perder o ar despretensioso, tão característico do país. Sem falar no povo, um dos mais hospitaleiros com quem já tive contato, entre tantas viagens pelo mundo.
A previsão é de que Uruguai vai abrir fronteiras aos viajantes brasileiros vacinados no início de novembro de 2021
Para entrar no país é necessário apresentar a carteira de vacinação em dia e o resultado negativo para o exame de Covid-19.
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Então, com fronteiras abertas, o que fazer em Montevidéu? Para responder a essa pergunta, selecionei 8 experiências com vinhos na região da capital do Uruguai, baseadas em uma viagem que fiz para escrever uma matéria para a revista WINE. O material impresso, no entanto, ficou bem mais enxuto, posto que no papel temos muito menos espaço para registrar nossas impressões do que na internet.
Por isso, você vai encontrar muito mais detalhes aqui neste post.
Dito isso, vamos a algumas informações para contextualizar melhor os passeios propostos.
Conheça, então, algumas das melhores experiências para curtir com vinhos na região de Montevidéu e as vinícolas perto da capital do Uruguai.
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A Bodega Bouza fica a apenas 20 km minutos do porto de Montevidéu, em uma bela propriedade cercada de verde, com animais por toda parte. Não estranhe, por exemplo, quando deparar com um pavão observando seu almoço harmonizado pela parede de vidro do restaurante. Há muitos deles pela vinícola.
A gastronomia, aliás, é competente, com versões contemporâneas de pratos tradicionais de influências uruguaia e espanhola. Vale (super!) ter um almoço harmonizado na própria bodega.
É delicioso terminar o almoço com uma generosa massa folhada de maçã acompanhada por um interessante late harvest de Riesling. Mas inusitado mesmo é degustar vinhos e tapas em meio a uma exposição fixa de carros antigos restaurados.
Nesse espaço para degustações também estão reunidas várias Vespas que fazem parte da coleção.
Foto: Luciana LancellottiRepresentante da nova geração da família, o gerente geral José Manuel Bouza me levou para conhecer dos vinhedos às modernas instalações, além do laboratório onde é feita a análise de qualidade da bodega, sob a supervisão do enólogo Eduardo Boido.
A 17 km do centro de Montevidéu, um casarão com ares de hacienda colonial espanhola abriga a Bodegas Carrau, uma das vinícolas mais tradicionais do Uruguai, entre as mais premiadas do país.
A enóloga, Carolina Damiano, é espanhola e vem de uma família igualmente produtora. Ela explica com clareza fascinante os processos da vinícola – aquele tipo de visita em que dá gosto perguntar para entender cada vez mais.
Encontrei Javier Carrau, enólogo e diretor da vinícola que, em 1991, recebeu o enólogo consultor (hoje produtor) Paul Hobbs. Ele o aconselhou a focar no aperfeiçoamento da Tannat.
Ao seguir o conselho, Javier liderou o movimento de vinícolas familiares que culminou no sucesso internacional da Tannat
Em conversas agradabilíssimas, Javier ensina muito sobre história e vitivinicultura. O lugar oferece visitas guiadas seguidas de degustação e conta com laboratório e centro de capacitação.
Visitei a Bodegas Carrau em uma manhã de sexta-feira, quando caía uma chuva torrencial na região. Por isso mesmo, apesar da ótima conversa com Javier durante a degustação, seguida por um almoço reconfortante, foi inviável fotografar a parte externa do casarão e os vinhedos (que mesmo sob a chuva preservaram sua beleza).
Mas o vídeo abaixo, apesar de breve, mostra bem que lugar lindo é a vinícola:
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A Bodega Marichal é administrada pela mesma família desde 1938. Nos 48 hectares são cultivadas variedades como Tannat, Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir, Chardonnay e Sauvignon Blanc.
O orgulho dessa longa tradição familiar é evidente em vários espaços da propriedade. Móveis e objetos que ajudam a contar a história da família atravessaram décadas praticamente intocados e hoje estão expostos em vários aposentos.
Geralmente os visitantes são recebidos por um ou mais integrantes da família. A fase atual é liderada por Juan Andres Marichal, representante da terceira geração, que se formou em enologia em Mendoza. Isso resultou no reconhecimento dos rótulos produzidos na vinícola em todo o país.
Quem visita o lugar pode participar de degustações em uma sala bastante agradável, onde é maravilhoso acompanhar as explicações da simpática sommelière e enóloga Lorena Curbelo. Tudo ela detalha, tudo ela explica. E o resultado é uma aula.
Momento Instagram: os balões de diálogo de cartoon com dizeres relacionados à paixão pelo vinho e pela Tannat, como “Tannat time!”, faz muita gente parar para posar e descontrair
Os vinhos são harmonizados com queijos, embutidos e empanadas, sempre bem-vindas.
Preste atenção ao Blanc de Noirs (tintas vinificadas em branco), um blend de Pinot Noir e Chardonnay. Elegante, muito fresco e de cor sutilmente alaranjada, uma das boas surpresas da visita.
E se houver exemplares disponíveis, vale a pena conhecer dois projetos premiados da vinícola:
Ambos foram criados pelo enólogo Juan Andrés Marichal, o barman e sommelier Álvaro Aniano e o jornalista Salvador Banchero.
A Marichal fica em Etchevarría, região de Canelones, a uma hora de carro a partir do centro de Montevidéu.
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Fundada em 1954, a Família MoizO fica em Juanicó, a 39 km de Montevidéu. É uma pequena vinícola onde tudo é produzido artesanalmente: vinhos, licores, conservas, marmeladas, embutidos. A própria família também faz as compras e seleções de produtos pessoalmente, como vegetais das hortas e pomares da região e carnes, além de preparar os assados e as sobremesas. E são também eles que vêm servir à mesa.
O apelo da bodega é, portanto, 100% caseiro.
A vinícola se tornou uma das mais procuradas para cerimônias de casamento. Bastante, inclusive, por casais brasileiros.
Com uma árvore genealógica que hoje inclui cinco gerações de produtores, a família Moizo é formada pelos simpáticos enólogos Sonia e Omar, e os filhos Lucas, Antonella e Fiorella, que cuidam de toda a produção da festa.
OK, você não quer se casar, apenas degustar.
Experimente, então, os vinhos servidos com queijos e embutidos artesanais. Além da degustação harmonizada, a visita à vinícola pode incluir passeios pelos vinhedos e pela parte antiga da bodega, além de almoços e outros eventos.
Se possível, fique para ver o pôr do sol.
Quem vê a os ambientes contemporâneos da Pizzorno Family Estates não imagina que pequena vinícola, a 23 km de Montevidéu, foi fundada em 1910. Como acontece nas bodegas familiares da associação Los Caminos del Vino, boa parte das as visitas e degustações são acompanhadas por um integrante da família produtora.
Fui recebida pelo jovem enólogo Francisco Pizzorno, responsável por modernizar a bodega e expert em atendimento.
Com vista para os vinhedos, o restaurante local serve clássicos da cozinha uruguaia preparados com técnicas contemporâneas, desde um bom assado a sobremesas com o incontornável dulce de leche.
A vinícola tem um super diferencial: é a única bodega familiar a oferecer uma pousada. A Pizzorno Lodge & Wine foi inaugurada no fim de 2108, com apenas quatro quartos.
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É ideal para quem prefere o sossego da área rural para acordar entre as vinhas. E afinal de contas, Montevidéu está próxima – assim como as outras vinícolas.
Uma belíssima alameda de oliveiras seculares leva à Varela Zarranz, a 28 km do centro de Montevidéu.
É uma das vinícolas mais antigas do Uruguai, fundada no século 19, com mais de 100 hectares de vinhedos de uvas tintas e brancas clássicas – entre essas últimas, uma exclusividade no país: a Muscat Petit Grain.
O lugar reúne passado e presente: da moderna sala de barricas à antiga adega, que abriga a maior coleção de barricas de carvalho francês em uso no Uruguai.
Pergunte sobre as numerações atrás das barricas gigantes de carvalho centenárias. Elas eram trazidas de navio desmontadas, direto de Nancy, na França. Já em solo uruguaio, eram remontadas dentro da vinícola. Por isso, os números nas barricas indicam a peça de madeira, entre muitas que integram a estrutura da barrica. E a letra, corresponde à unidade/barrica, como me explicou o enólogo Enrique Varela Arocena.
Além de degustações e visitas pelos vinhedos, a vinícola serve também almoços harmonizados nos fins de semana.
Outro programa bastante procurado é o piquenique no vinhedo, que inclui uma cesta para duas pessoas com produtos do campo, pães frescos e uma garrafa de vinho Classic Line à escolha.
A expressão “wine flight”, em tradução livre “voo de vinho”, define um grupo de vinhos. Na prática, é um conjunto geralmente de 3 a 8 vinhos de características parecidas, para serem degustados e comparados. Também são chamados de wine flights os eventos de degustação de vinhos.
No elegante bairro de Carrasco, em Montevidéu, o Sofitel Casino Carrasco é um marco da história da hotelaria de luxo do Uruguai.
Muitos se hospedam nele, outros vêm para frequentar o spa ou o restaurante 1921, um dos melhores da cidade. O simpático Federico de Moura, é, há anos, considerado o melhor sommelier do país e recomenda as melhores harmonizações em excelente português.
Aceite experimentar o wine flight proposto por ele: três taças para acompanhar os pratos chegam à mesa “voando”, sustentadas por um anel de metal pelas mãos de Federico.
“É um voo de vinhos e de harmonização”, explica o profissional, que sugere três tipos de degustação: local, fusão de terroirs e criolla.
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Em Montevidéu, o My Suites Boutique Hotel foi pensado para reverenciar o mundo do vinho. A localização não poderia ser melhor: no bairro de Pocitos, perto de ótimos restaurantes, cafés, bares, lojinhas e museus, com a praia a poucos passos.
Cada andar tem o nome de uma vinícola uruguaia e os quartos estão sempre abastecidos com pelo menos duas garrafas de diferentes rótulos nacionais.
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O melhor: as degustações para os hóspedes são gratuitas, uma oportunidade a mais de conhecer os vinhos uruguaios. As instalações são novas e a relação custo/benefício é ótima.
Fiquei hospedada nele em uma das viagens e tudo funcionou lindamente. A localização é realmente um diferencial e em várias passagens pelo restaurante e pelo bar vi degustações organizadas para os hóspedes.
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