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Hotel Le Grand Contrôle em Versailles, na França

Poucas inaugurações no setor de hotelaria de luxo internacional foram tão aguardadas como a do hotel Le Grand Contrôle, localizado na ala sul do Palácio de Versailles. Administrado pela luxuosa rede hoteleira Les Airelles, o novo hotel funciona em um dos três prédios localizados junto aos portões do palácio: o Hôtel du Grand Contrôle, o Petit Contrôle e o Pavillon des Permères Cents Marches. Com vistas impressionantes para o laranjal (l’Orangerie), todos foram projetados originalmente no século 17 pelo arquiteto favorito de Luís XIV, Jules Hardouin-Mansart.

O Grand Contrôle, em particular, concentrou o controle Geral das Finanças, equivalente a um ministério. E assim funcionou até o início da Revolução Francesa.

O prédio do Grand Contrôle em foto de 2010 | Jacques Demarthon para AFP

De lá para cá, o edifício foi sede do Tribunal do Comércio, residência de diferentes proprietários, serviu como refeitório para oficiais e biblioteca militar, até ser entregue ao domínio nacional de Versailles em 2008. Em 2010, foi integrado a um projeto de concessão (relançado em 2015) e atribuído em março do ano seguinte ao grupo LOV Hotel Collection e à Alain Ducasse Entreprise, do chef francês multiestrelado.

Hotel Le Grand Contrôle em Versailles, França
Gastronomia
@renee_kemps

Desde 2016, a empresa de Alain Ducasse já opera o restaurante Ore [“boca”, em latim] Ducasse au Château de Versailles, dentro do castelo, com o chef executivo Stephane Duchiron no comando. Também, supervisiona o que é servido grandes festas em eventos especiais no Castelo.

Com a concessão, Ducasse também passa a ser responsável pela supervisão de toda a gastronomia do hotel Le Grand Contrôle. E propõe jantares excepcionais que o Ore já oferece quando o castelo se esvazia de seus visitantes.

É nessa hora que o restaurante, de ambiente ultra discreto, ganha ares dramáticos, com equipe de gala, serviço à francesa e pratos apresentados simultaneamente aos comensais. Sopas, assados e sobremesas se sucedem coreograficamente, com louças reeditadas do século 18 pela tradicionalíssima grife francesa de porcelanas Bernardaud, sediada em Limoges.

O preço para participar do jantar inspirado em cardápios históricos é de €350 por pessoa, sem vinhos, e €500 com harmonização, valores à altura das diárias estimadas do novo hotel, a partir de €1700 com café da manhã e chá da tarde incluídos, além do frigobar como cortesia. O vídeo abaixo é curtinho, mas dá uma ideia da sofisticação da gastronomia oferecida no evento.

Bem, no novo Le Grand Contrôle, o restaurante comandado por Ducasse, Le Festin, segue o padrão de classe e sofisticação do século 18. Vamos lá, admita: tentador é pouco.

Foto Renée Kemps
Hotel Le Grand Contrôle em Versailles, França
Maria Antonieta

As diárias incluem chá da tarde que, neste caso, homenageia a figura mais emblemática da história de Versailles, Maria Antonieta. A refeição é composta po especialidades como uma variedade de sanduíches, brioches vienenses e outras gourmandises.

O chocolate quente, bebida favorita da última rainha da França, é assinado pela grife Le Chocolat Alain Ducasse, para ser apreciado puro ou perfumado com flor de laranjeira, do jeito que Maria Antonieta preferia.

Leia também:
+ A paixão de Maria Antonieta por doces
+ Viajar pela França hospedando-se em castelos


Hotel Le Grand Contrôle em Versailles, França
Quartos e suítes

Já que a proposta é levar a exclusividade a sério, o novo Le Grand Contrôle terá apenas 14 quartos e suítes. As maiores ficam nos andares inferiores, de acordo com a tradição. A Suíte Necker é o antigo apartamento privado de Jacques Necker, ministro das finanças durante o  governo de Luís XVI.

Instagram @renee_kemps

Com 120m², a suíte tem pé direito de 4 metros de altura, piso de parquet de Versailles e cama com dossel, além de sala de estar.

Todos os apartamentos são iluminados por lustres século 18 e decorados com papel de parede antigo. Como no quarto Madame de Fouquet, abaixo, inspirado na socialite que se casou com o Marquês de Fouquet, herói da Guerra Revolucionária Americana. Juntos, eles viveram no Le Grand Contrôle até 1787.

Com 60m² e dois banheiros incluídos, o quarto tem um terraço espaçoso, de 30m², com vista deslumbrante sobre os jardins do Palácio de Versailles.

Hotel Le Grand Contrôle em Versailles, França
Contagem regressiva

Inicialmente previsto para abrir em 2020 – o que não aconteceu sobretudo em decorrência da pandemia –, o Grand Contrôle está prestes a ser inaugurado, no dia 1º de junho deste ano.

Após um exaustivo trabalho de restauração do edifício, que contou com um comitê científico para garantir a fidelidade ao patrimônio histórico do imóvel, o hotel ganhou móveis e obras de arte originais selecionados e restaurados sob a batuta do arquiteto de interiores Christophe Tollemer. Os requintes vão de tapetes de tapeçaria da Manufacture Royal d’Aubusson tecidos estampados da tradicional Maison Pierre Frey.

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Hotel Le Grand Contrôle em Versailles, França
Cápsula do tempo

Boa parte dos 14 quartos e suítes distribuídos em uma área de  1700 metros quadrados terá vista descortinada para o Orangerie, o extenso laranjal composto por árvores provenientes de vários países europeus. A flor de laranjeira exalava o perfume favorito de Luís XIV e a tradição entre os cortesãos era presentear o rei com laranjeiras.

Seguindo o tom que pontua os ambientes do complexo, o hotel estabeleceu parceria com a marca suíça Valmont para criar seu spa. O resultado: além de tratamentos estéticos e relaxantes de ponta, será possível traçar longas braçadas em uma piscina coberta.

A proposta é oferecer a sensação de mergulhar em uma cápsula do tempo criada no século 18.

Tudo é, sem dúvida, tentador e chega a ser opulento, mas talvez nenhum dos luxos mencionados se compare ao privilégio de poder participar de passeios exclusivos pelo interior do palácio, na companhia de um guia. O complexo de Versailles é composto também pelo Grand Trianon, os famosos Jardins e o palácio principal.

No antigo pavilhão de caça fica hoje a residência oficial do presidente da república em Versailles – foi local escolhido por Emmanuel Macron para se isolar após o teste positivo para Covid-19, em 2020.

A residência oficial de La Lanterne, em Versailles | Reuters
Hotel Le Grand Contrôle em Versailles
Acesso privilegiado

Após o café da manhã, os hóspedes podem participar de passeios privados pelo Petit Trianon, considerado uma jóia do neoclássico francês, onde Maria Antonieta se refugiava da pompa que ditava a vida na corte.

E durante a noite, os tours exclusivos pelo interior do palácio começam após o horário de visitação pública.

Uma equipe estimada em 15 mordomos – treinados com excelência, em aulas que incluíram a história detalhada do Palácio de Versailles – fica à disposição dos hóspedes para auxiliar no que precisarem e projetarem qualquer tipo de experiência no palácio.

E os privilégios vão além: se um hóspede for aficionado por Versailles, pode, por exemplo, agendar um almoço com a presidente do Palácio, a jornalista Catherine Pégard.

Com esse tipo de vivência, o novo hotel entra em sintonia com a tendência do chamado hedonismo intelectual, que evita o estímulo digital acelerado e volta as atenções ao entretenimento analógico, sem pressa nem preocupações.

* Este post foi adaptado de um artigo que escrevi originalmente para a revista ISTOÉ Dinheiro.

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Jornalista e consultora nas áreas de gastronomia e viagem, não recusa uma taça de um bom Syrah. Editora de Estilo da revista ISTOÉ Dinheiro, foi diretora de redação da revista WINE, crítica de restaurantes da revista Playboy, repórter e apresentadora na Rede Globo São Paulo e TV Cultura.
Luciana Lancellotti

Jornalista e consultora nas áreas de gastronomia e viagem, não recusa uma taça de um bom Syrah. Editora de Estilo da revista ISTOÉ Dinheiro, foi diretora de redação da revista WINE, crítica de restaurantes da revista Playboy, repórter e apresentadora na Rede Globo São Paulo e TV Cultura.

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