Se durante sua passagem por Mendoza o plano do dia for conciliar degustação e almoço em uma vinícola, ou, melhor dizendo, ter nessa vinícola sua experiência gastronômica em Mendoza, agende um passeio na Ruca Malen, em Luján de Cuyo.
E reserve, pelo menos, a manhã e o início da tarde para isso.
A Ruca Malen foi a primeira vinícola de Mendoza a desenvolver um menu degustação para seus visitantes. Dentro dessa proposta, cada ingrediente da cozinha local tem sua máxima expressão destacada, em grande harmonia com os rótulos locais.
De tão bem elaborado, o projeto de experiência gastronômica em Mendoza proposto pela Ruca Malen trouxe reconhecimento internacional à casa. Em 2013, a associação Great Wine Capitals concedeu à bodega o prêmio pelo melhor restaurante em vinícola do mundo.
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A EXPERIÊNCIA
A foto que abre este post destaca um restaurante ambientado em um moderno gazebo, no limite com os vinhedos da Ruca Malen.
Mas há também um outro ambiente, interno, com a mesma atmosfera elegante pontuada com toques rurais, onde almocei após a degustação. Toalhas de linho branco com passadeiras em tecido rústico vermelho, cadeiras produzidas em vime… Tudo é pensado para harmonizar com a natureza e a cultura do entorno.
Não à toa, os dois ambientes têm paredes de vidro descortinadas para os vinhedos e para a Cordilheira dos Andes.
Para produzir os pratos, o jovem chef Lucas Bustos cultiva vegetais e ervas aromáticas na própria horta da vinícola. A harmonização com os vinhos da casa, por sua vez, é feita pela sommelière Eugenia de la Iglesia.
O cardápio é alterado a cada estação. Neste menu, intitulado “Origens”, outra curiosidade é a referência a técnicas de cocção dos antigos povos que habitavam os Andes argentinos, como é o caso do curanto, utilizado para preparar o ossobuco.
O MENU
Dando início à sequência de pratos no melhor restaurante em vinícola do mundo, de acordo com a Global Wine Capitals, a amuse-bouche é uma salada servida sobre uma placa de vidro, preenchendo o desenho de uma suri, como você vê abaixo.
São cubos de abóbora marinados em emulsão de limão, com peras e maçãs, arrematados com flores comestíveis, em uma agradável combinação de texturas. Harmonizado com o Yauquen Torrontés 2015, sem passagem por carvalho, abriu o menu com frescor e criatividade.
No primeiro aperitivo, que você vê na foto abaixo, uma telha finíssima e crocante, quase dourada, esconde uma porção de carne de coelho preparada em seu próprio suco e servida com frutos secos sobre emulsão de batata. O resultado, no paladar, é bem reconfortente.
É uma sugestão de sabor aconchegante, acompanhada por um Malbec, também da linha premium, Yauquen, safra 2014. Um tinto suculento e refrescante, com suaves taninos que limparam o paladar para prosseguir com as etapas seguintes.
Já o segundo aperitivo chegou à mesa rusticamente, sobre um ladrillo de adobe: o ensopado de feijão é servido com queijo derretido e ervas frescas. A dica é preencher a garfada com um pouco de cada componente do prato.
Os grãos têm textura macia, sem se desfazer, oferecendo leve resistência ao serem degustados.
A harmonização foi feita com um varietal de Cabernet Sauvignon, Ruca Malen 2013, com estágio de 12 meses em carvalho francês (85%) e norte-americano (15%). O sabor picante dos ingredientes encontrou reflexos no vinho, que equilibrou a cremosidade do ensopado com sua acidez.
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Em seguida, a entrada: um ossobuco escoltado por vegetais, preparado de acordo com uma versão própria de curanto, técnica de cocção realizada, originalmente, sob o solo e sobre brasas.
O prato chega fervendo à mesa, servido sobre uma pedra reciclada, resgatada há 120 anos.
Mereceu o registro em vídeo.
Seguindo a origem do prato e da técnica, a ordem, aqui, é compartilhar.
A carne de sabor intenso, com fibras tenras e macias, é guarnecida com o próprio caldo e acompanhada por abóboras, cebolas e espinafre.
O vinho sugerido para harmonização, um Ruca Malen Malbec 2004, já não se encontra mais no mercado – foi produzido em edição limitada, o que sempre traz à refeição um caráter saudável de experiência única (adorei o rótulo, aliás).
As notas de madeira e de aceto balsâmico acompanharam muito bem a carne e o teor adocicado dos vegetais.
No prato principal, é a vez de o contraste de texturas realçar os sabores tipicamente argentinos.
Um medalhão de filé mignon é servido com purê de cenouras de notas agradavelmente adocicadas, pincelado em tons de amarelo-vivo sobre o prato. Batatas crocantes, chips de berinjela, cebolas douradas e um curioso chimichurri de quinoa complementam a sugestão.
A combinação pede um vinho mais complexo, no caso, o Kinien Malbec 2012, com 15 meses de estágio em barricas novas (90% carvalho francês e 10% norte-americano).
PARA ADOÇAR
A sugestão, como sobremesa, foi um bolo úmido de mel e laranja, equilibrado com um sorvete de creme com notas cítricas.
Para harmonizar, um espumante, Ruca Malen Brut, elaborado com 75% de Pinot Noir e 25% de Chardonnay pelo método tradicional.
O menu no melhor restaurante em vinícola do mundo, de acordo com a Global Wine Capitals, é concluído com gourmandises servidas com um espresso e infusões.
CONCLUSÃO
É certo que várias ótimas vinícolas oferecem visitas às instalações, com degustação seguida de almoço.
Algumas dessas experiências são boas, muitas são questionáveis e poucas, surpreendentes.
É certo, também, que listas superlativas elencando restaurantes e vinhos andam de mãos dadas com a polêmica – estão aí o World’s 50 Best Restaurants e a Wine Spectator’s Top 100 para provar, a cada ano, quão aclamada ou famigerada pode ser uma seleção amplamente divulgada pela imprensa internacional.
Cada uma tem seus critérios para definir corpo de jurados, área de atuação e métodos de avaliação. Cada uma encontra, também, seu público.
Pelo mundo, temos excelentes restaurantes em vinícolas, como a Cantinetta Antinori, da Palazzo Antinori, na Toscana, o restaurante do Chateau Cordeillan-Bages, em Pauillac, na França, e o da vinícola Marqués de Riscal, em La Rioja, na Espanha, entre outros expoentes.
O próprio 1884, de Francis Mallmann, em Mendoza, costuma ser listado por estar dentro de uma vinícola, a Escorihuela Gascón, apesar de ser independente em termos administrativos.
Enfim, meu ponto é o seguinte: como se viu neste post, a experiência gastronômica na vinícola Ruca Malen não está ligada à ostentação, com direito a ambiente design-cenário para que chefs estrelados brilhem.
Trata-se da dedicação e da competência em impressionar, dentro da rusticidade da cultura local, os sentidos de quem se senta às suas mesas.
O luxo, no restaurante da vinícola Ruca Malen, se traduz no prato, na taça e na vista, perfeitamente integrados.
O reconhecimento como melhor restaurante em vinícola do mundo pela Global Wine Capitals tem embasamento, acredito, no feliz resultado dessa integração, alheia a modismos e celebridades.
É, de fato, uma bela experiência gastronômica, que se diferencia de vários outros excelentes restaurantes em vinícolas e passa longe de restaurantes excessivamente turísticos, observados em muitas vinícolas mundo afora.
* Viajei a Mendoza a convite da importadora Casa Flora.
Bodega Ruca Malen
Ruta Nacional 7 Km 1059
Agrelo , Mendoza
Tel. (54) 261-4138909 e (54) 9 261-4540974
Email: mendoza@bodegarucamalen.com
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