O melhor frango do mundo

Foto: François Bouchon/Le Figaro
O melhor frango do mundo
Foto: François Bouchon/Le Figaro

L ´Ami Louis. Um antigo bistrô parisiense, inaugurado em 1924 em uma rua esquisita e meio deserta no Marais, que se tornou famoso mundo afora graças à autenticidade de sua comida. Mas foi o frango assado, o Poulet Rôti L’Ami Louis, que consagrou o lugar definitivamente e o mantém notável até hoje.

Os preços, exorbitantes, nunca foram empecilho para que o bistrô, com atmosfera nostálgica, no melhor estilo Vieux Paris, vivesse lotado. As paredes parecem não receber pintura há décadas. Os banheiros, apertados, ficam no porão. As mesas são pequenas e muito próximas. E, ainda assim, o lugar ostenta em sua lista de clientes gente como Bill Clinton, Jacques Chirac e Francis Ford Coppola. “É o restaurante preferido do Chico Buarque e da Bebel Gilberto”, completou uma amiga minha, que viveu em Paris. Danuza Leão, outra ex-moradora da Cidade Luz, confessou que atravessaria o oceano simplesmente para comer o tal frango, de tão bom que ele é.

Pois bem. Já estudei em Paris. Durante minha permanência na capital francesa, entre idas e vindas às Fauchon, Poilâne e Hediard da vida, nunca cogitei ir ao L’Ami Louis. É bem certo que foi em uma época em que eu sequer sonhava em escrever sobre gastronomia – tal deslize, nessa condição profissional, seria imperdoável. Mas por uma dessas arrogâncias da vida, das vezes em que retornei à capital francesa, já como crítica, nunca priorizei fazer reserva no tal bistrô, confiando na sorte. E, inocente que sou, até dei uma passada lá por duas noites e ouvi um simpático “Désolé, mademoiselle, mas estamos lotados” (ao que suspirei e, sem alternativas, virei as costas, educadamente, para me retirar). Au revoir. Fazer o quê? E o frango sempre acaba ficando para a próxima. 

 Pode um frango assado para duas pessoas custar a módica quantia de 78 euros?

O mais engraçado é que muitos parisienses, ao serem questionados sobre o tal bistrô, respondem, quase em uníssono, que nunca ouviram falar no lugar. Como assim? O melhor frango do mundo sendo preparado na sua cidade, e você nem tchuns? “Isso é coisa para turista”, disse minha querida professora de francês, uma senhora parisiense linda e culta, que gargalhou ao saber o preço do frango. Setenta e oito euros, da última vez. Isso mesmo. Setenta e oito euros por um frango, para duas pessoas. Há quem saia se sentindo explorado. Outros juram que vale cada centavo.

Diz um amigo meu que, para justificar um preço tão absurdo, o tal frango deveria falar várias línguas, jogar uma partida de pôquer com os comensais e dançar o can-can sobre a mesa, antes de ter suas lindas e suculentas coxinhas degustadas. Piadas à parte, o preparo é, no mínimo, respeitável: a ave é besuntada generosamente com gordura de ganso, antes de ser assada no forno à lenha por exatos 45 minutos, até atingir superfície crocante inigualável. É servida imediatamente, acompanhada por uma montanha de batatas fininhas, fritas igualmente em gordura de ganso, e assadas em panela de cobre revestido de estanho. Finalmente, o poulet é desossado à mesa, na frente do cliente.

Conhecendo o processo, há de se admitir que a ideia de provar a ave é, no mínimo, simpática. Sendo um caso tão específico, melhor não palpitar. E tirar a dúvida pelo próprio paladar. Mas, da próxima vez, fazendo reserva antes mesmo de embarcar para a França. Me aguardem.

Atualização do post: Eu estive lá! Confira a experiência aqui.

Foto: François Bouchon/Le Figaro

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O melhor frango do mundo
Jornalista e consultora nas áreas de gastronomia e viagem, não recusa uma taça de um bom Syrah. Editora de Estilo da revista ISTOÉ Dinheiro, foi diretora de redação da revista WINE, crítica de restaurantes da revista Playboy, repórter e apresentadora na Rede Globo São Paulo e TV Cultura.
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