L ´Ami Louis. Um antigo bistrô parisiense, inaugurado em 1924 em uma rua esquisita e meio deserta no Marais, que se tornou famoso mundo afora graças à autenticidade de sua comida. Mas foi o frango assado, o Poulet Rôti L’Ami Louis, que consagrou o lugar definitivamente e o mantém notável até hoje.
Os preços, exorbitantes, nunca foram empecilho para que o bistrô, com atmosfera nostálgica, no melhor estilo Vieux Paris, vivesse lotado. As paredes parecem não receber pintura há décadas. Os banheiros, apertados, ficam no porão. As mesas são pequenas e muito próximas. E, ainda assim, o lugar ostenta em sua lista de clientes gente como Bill Clinton, Jacques Chirac e Francis Ford Coppola. “É o restaurante preferido do Chico Buarque e da Bebel Gilberto”, completou uma amiga minha, que viveu em Paris. Danuza Leão, outra ex-moradora da Cidade Luz, confessou que atravessaria o oceano simplesmente para comer o tal frango, de tão bom que ele é.
Pois bem. Já estudei em Paris. Durante minha permanência na capital francesa, entre idas e vindas às Fauchon, Poilâne e Hediard da vida, nunca cogitei ir ao L’Ami Louis. É bem certo que foi em uma época em que eu sequer sonhava em escrever sobre gastronomia – tal deslize, nessa condição profissional, seria imperdoável. Mas por uma dessas arrogâncias da vida, das vezes em que retornei à capital francesa, já como crítica, nunca priorizei fazer reserva no tal bistrô, confiando na sorte. E, inocente que sou, até dei uma passada lá por duas noites e ouvi um simpático “Désolé, mademoiselle, mas estamos lotados” (ao que suspirei e, sem alternativas, virei as costas, educadamente, para me retirar). Au revoir. Fazer o quê? E o frango sempre acaba ficando para a próxima.
Pode um frango assado para duas pessoas custar a módica quantia de 78 euros?
Diz um amigo meu que, para justificar um preço tão absurdo, o tal frango deveria falar várias línguas, jogar uma partida de pôquer com os comensais e dançar o can-can sobre a mesa, antes de ter suas lindas e suculentas coxinhas degustadas. Piadas à parte, o preparo é, no mínimo, respeitável: a ave é besuntada generosamente com gordura de ganso, antes de ser assada no forno à lenha por exatos 45 minutos, até atingir superfície crocante inigualável. É servida imediatamente, acompanhada por uma montanha de batatas fininhas, fritas igualmente em gordura de ganso, e assadas em panela de cobre revestido de estanho. Finalmente, o poulet é desossado à mesa, na frente do cliente.
Conhecendo o processo, há de se admitir que a ideia de provar a ave é, no mínimo, simpática. Sendo um caso tão específico, melhor não palpitar. E tirar a dúvida pelo próprio paladar. Mas, da próxima vez, fazendo reserva antes mesmo de embarcar para a França. Me aguardem.
Atualização do post: Eu estive lá! Confira a experiência aqui.
Foto: François Bouchon/Le Figaro
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