Cada vez que me chegam notícias sobre concursos de vinhos, com o “melhor tinto do mundo”, ou o “vinho brasileiro que conquistou o 5º, 2º, 10º” ou sei lá qual lugar em sei lá qual concurso, fico bastante reticente. E nego-me a compartilhar.
“Tal rótulo desbancou até mesmo os franceses” ou “Pela primeira vez um vinho brasileiro conquistou tal posição”. Ainda: “O vinho, vendido em supermercados, superou, em testes realizados às cegas, até mesmo concorrentes caríssimos e históricos”.
Será?
Primeiramente, vamos admitir que superlativos são perigosos, ainda mais em um mundo tão cheio de subjetividades, como o do vinho.
Depois, vamos reconhecer que há, de fato, rankings e concursos de vinhos organizados com seriedade, que nos despertam o interesse a este ou àquele rótulo. E parou por aí.
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Mas a impressão, ao ler ultimamente notícias abordando os concursos de vinho, é que foram publicadas a partir de releases ou informes, sem que nenhuma linha tenha sido questionada.
– Quais foram os jurados do concurso?
– Que vinho é esse?
– Qual o histórico da vinícola e que trabalho vem desenvolvendo?
– E, mais importante: quais os outros vinhos que estavam no páreo?
Sim, porque grandes vinhos não são inscritos em concursos.
Nessa onda, quantos rótulos não mais que razoáveis se transformaram em sucessos de vendas (e marketing), chegando até mesmo a alavancar e-commerces de vinhos por terem sido considerados “os melhores do mundo”?
Alguém menciona que o dito concurso premiou com ouro nada menos que outros 23 rótulos?
Ironias à parte, seria bom se muitos de nós parássemos para questionar esse tipo de apelo. Vejo profissionais do meio agindo como inocentes úteis ao divulgar coisas do tipo, seja ao compartilhar nas redes sociais, seja ao publicar nos portais de notícias.
Prestar o verdadeiro serviço ao leitor/consumidor, a meu ver, vai além de reproduzir informes das agências de notícias e assessorias de imprensa, exaltando o superlativo em concursos de vinhos. É descobrir e recomendar bons rótulos a bons preços, educar sobre como identificar vinhos que valem ser experimentados e indicar aqueles que, de fato, merecem maior investimento.
Isso, para começar, claro.
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